terça-feira, 13 de outubro de 2015

                                                Ensaio sobre a felicidade...


                Durante um bom tempo da minha vida eu acreditei que a verdadeira felicidade era o encontro com a totalidade do próprio ser. Sem subterfúgios, sem combinações e muito menos compartilhamentos. Simplesmente um. Tudo o que precisaríamos para gozarmos da plena satisfação estaria em um lugar protegido dentro do eu.
Assim, afastei-me dos excessos e das faltas, crendo com isso que, inevitavelmente, chegaria ao equilíbrio.
            E cheguei.
         Deparei-me com um imaculado e sóbrio ancião, impassível em sua corda bamba. Olhou-me com tranqüilidade e sorriu-me. Convidou-me a subir a seu lado e ali permaneci por algum tempo. Contemplei o restante do universo abaixo de meus pés e por um momento senti-me completamente em paz.
O momento então passou.
A paz transformou-se em estranheza. A janela da minha alma estava aberta, mas não havia sol. Nem chuva, nem nuvens, confesso. Não havia nada.
Foi então que me dei conta de que fomos feitos para sermos elos. E o sol é o outro. Privarmos-nos desta luz por medo de nos queimarmos é covardia e perda. E também egoísmo, pois o outro também somos nós.
Estar em harmonia consigo mesmo é essencial, mas é somente através dos outros seres que experimentamos a verdadeira felicidade. Na troca, nos sentidos, no amor. Porque o amor só existe onde há reflexo.
O equilíbrio então estendeu-me sua mão firme e eu desci. Decidida a andar pelo mundo de mãos dadas com a acaso. Aberta ao inesperado, atenta aos detalhes.
Olhei para trás e ele me olhava de volta, benevolente. Em seus olhos estava escrito: “Não se preocupe, estarei sempre aqui com meus braços abertos para ti, mas lembre-se que cada cicatriz conta uma história e não há sabedoria sem experiência.”
Segui então meu caminho, feliz.
  

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